
Num mundo cada vez mais urbano — com mais de 56% da população mundial a viver em cidades —, estes territórios assumem um papel central no combate às alterações climáticas. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), as cidades são responsáveis por cerca de 70% das emissões globais de gases com efeito de estufa e consomem mais de dois terços da energia mundial. Mas são também centros de inovação, mobilização e capacidade de transformação.
As cidades representam uma oportunidade única para reduzir rapidamente as emissões globais e cumprir os objetivos do Acordo de Paris. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), ações urbanas de baixo carbono podem reduzir até 40% das emissões urbanas projetadas até 2050.
Neste Dia Mundial da Terra, importa sublinhar que o futuro climático do planeta será decidido, em grande medida, nas nossas cidades.
Cidades: problema e solução
Se, por um lado, as cidades são grandes emissoras de carbono, por outro, possuem ferramentas eficazes para reduzir emissões e aumentar a resiliência climática. Entre as estratégias mais relevantes destacam-se:
- Planeamento urbano sustentável, promovendo o acesso a transportes públicos de baixa emissão, a mobilidade ativa (como andar a pé e de bicicleta) e a preservação de espaços verdes.
- Eficiência energética nos edifícios públicos e privados, reduzindo o consumo e as emissões associadas.
- Promoção das energias renováveis a nível local, incluindo a criação de comunidades de energia e sistemas de autoconsumo.
- Gestão sustentável da água e dos resíduos, minimizando a pressão sobre os recursos naturais e reduzindo emissões associadas.
- Infraestruturas verdes, como telhados e fachadas verdes, corredores ecológicos e arborização urbana, que não só melhoram o microclima, como também atuam na remoção de carbono da atmosfera, através da captura natural de CO₂ pelas plantas e árvores.
Atualmente, há diversos exemplos que demonstram que, com liderança, visão, participação dos cidadãos e ação coordenada, as cidades podem reduzir as suas pegadas ecológicas. Iniciativas como o C40 Cities, a missão europeia “Climate-Neutral and Smart Cities” e, em Portugal, a Cidades pelo Clima, reforçam esta tendência de ação coletiva.
Transformar a infraestrutura, envolver as pessoas
A descarbonização das cidades implica transformar os sistemas urbanos — transportes, energia, construção, resíduos — mas também mobilizar a sociedade. A justiça climática exige que as soluções sejam inclusivas, garantindo que todos os cidadãos, sobretudo os mais vulneráveis, participem e beneficiem da transição energética.
Programas de apoio à renovação energética de edifícios, democratização do acesso à energia renovável, mobilidade elétrica acessível e planeamento adaptado às alterações climáticas são componentes-chave de uma estratégia urbana integrada.
Além disso, o investimento em educação climática, participação cidadã e inovação social será decisivo para criar cidades resilientes, justas e preparadas para o futuro.
Em Portugal: como acelerar a mudança
No contexto nacional, projetos como a Cidades pelo Clima demonstram que o trabalho em rede, a partilha de conhecimento e o apoio técnico especializado são essenciais para potenciar a ambição climática local. Ferramentas como o MEM+ – Monitorização de Emissões Municipais permitem às cidades portuguesas conhecer melhor as suas emissões e definir trajetórias de neutralidade carbono com base em dados fiáveis.
A ação climática começa a ganhar forma nos centros urbanos — e é nas ruas, bairros e praças que se desenham as cidades do futuro.