Adaptar-se ao Clima é um bom (e urgente) negócio  

As alterações climáticas deixaram de ser uma ameaça futura para se tornarem uma realidade presente. Ondas de calor extremas, secas prolongadas, inundações devastadoras e tempestades intensas estão a tornar-se cada vez mais comuns em todas as regiões do mundo. Só em 2024, registaram-se 58 eventos climáticos extremos com prejuízos superiores a mil milhões de dólares cada, segundo o relatório da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration). O impacto sobre comunidades, infraestruturas e economias é imenso e a tendência é agravar-se nos próximos anos. 

Apesar da urgência, o financiamento global para adaptação climática continua muito aquém do necessário: estima-se um défice de investimento de cerca de 359 mil milhões de dólares por ano. Este atraso compromete a capacidade de preparar cidades, sistemas produtivos e serviços públicos para enfrentar os riscos climáticos que já estão a ocorrer. 

No entanto, adaptar-se ao clima não é apenas uma medida defensiva, mas também uma oportunidade de desenvolvimento económico, social e ambiental

O Triplo Retorno da Adaptação 

Novos estudos recentes, como o relatório do Global Commission on Adaptation (2021) e a análise do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2023), que abarcam mais de 300 projetos de adaptação em setores como Saúde, Agricultura, Gestão da Água e Infraestruturas, demonstram que cada dólar investido pode gerar um retorno superior a 10 dólares em benefícios líquidos ao longo de 10 anos. 

Esse “dividendo triplo” da adaptação inclui: 

  • Evitar prejuízos diretos provocados por eventos extremos; 
  • Impulsionar o desenvolvimento económico, por meio da criação de emprego, valorização de ativos e dinamização de setores produtivos; 
  • Gerar benefícios sociais e ambientais, como melhorias na saúde pública, na qualidade ambiental e na resiliência das comunidades. 

Cidades na linha da frente 

As cidades concentram populações e ativos altamente expostos aos riscos climáticos. Ao mesmo tempo, são centros de inovação e capacidade institucional, o que as coloca numa posição estratégica para liderar ações de adaptação. 

Exemplos não faltam. Em Fortaleza (Brasil), a restauração de zonas naturais urbanas tem ajudado a controlar inundações, ao mesmo tempo que cria espaços verdes e valoriza o território. Em Durban (África do Sul), Soluções Baseadas na Natureza estão a regenerar bacias hidrográficas, melhorando a qualidade da água, criando empregos locais e capturando carbono. 

Estas abordagens integram a adaptação nos planos de desenvolvimento urbano, com benefícios que vão muito além da gestão de risco. 

No setor agrícola, iniciativas como a da Etiópia, que combinam restauração de ecossistemas com capacitação de agricultores em práticas sustentáveis, têm mostrado aumentos de produtividade e maior resiliência dos solos. No Quénia, programas que oferecem transferências monetárias e apoio nutricional em regiões afetadas por seca demonstraram forte impacto na saúde e na produtividade. 

Na gestão da água, projetos que combinam infraestruturas tradicionais com Soluções Baseadas na Natureza estão a tornar-se referência, tanto em zonas urbanas como rurais. Estes investimentos não só previnem catástrofes, como também contribuem para a segurança hídrica, biodiversidade e mitigação das alterações climáticas. 

Benefícios mesmo sem desastres 

Um dado importante: mais de 65% dos benefícios gerados por projetos de adaptação ocorrem mesmo na ausência de eventos extremos. Isto significa que a adaptação não deve ser vista apenas como um “seguro climático”, mas como parte integrante do desenvolvimento sustentável. 

Além disso, cerca de metade dos projetos analisados também resultaram em redução de emissões de gases com efeito de estufa, mostrando que adaptação e mitigação não são estratégias concorrentes, antes são complementares e interdependentes. 

Uma oportunidade que não podemos perder 

Durante muito tempo, a adaptação foi vista como uma despesa inevitável — um mal necessário. Hoje, está claro que se trata de uma das decisões de investimento mais inteligentes que podemos tomar. Os dados mostram que adaptar-se não é apenas evitar perdas: é criar valor, proteger vidas e promover um desenvolvimento mais justo e sustentável. 

Para as cidades, em particular, investir em resiliência significa proteger infraestruturas críticas, garantir a continuidade dos serviços essenciais, atrair novos investimentos e melhorar a qualidade de vida da população — especialmente das comunidades mais vulneráveis.