A expansão da Inteligência Artificial e o desafio energético dos Data Centers

À medida que a Inteligência Artificial (IA) se consolida como uma força transformadora em diferentes setores, o seu impacto vai muito além do digital. A procura crescente por capacidade computacional está a impulsionar uma verdadeira corrida global por infraestrutura de dados, com a construção de novos data centers a acelerar a um ritmo sem precedentes. Estes centros, que processam e armazenam grandes volumes de informação, estão a tornar-se grandes consumidores de eletricidade. 

As projeções indicam que, até 2030, os data centers poderão representar entre 2% e 6% do consumo global de eletricidade. Esta estimativa reflete incertezas relacionadas com a velocidade de adoção da IA, a maturidade tecnológica e os avanços em eficiência energética. Ainda assim, o sinal é claro: o crescimento da IA está a tornar-se também um desafio energético global. 

Energia limpa como fator estratégico 

Tradicionalmente, os principais critérios para a instalação de um data center incluíam conectividade rápida, acesso confiável à rede elétrica e proximidade de centros urbanos. Com a digitalização e a transição energética a ocorrerem em paralelo, o acesso a energia limpa e acessível passou a ser um fator decisivo. 

Este movimento é impulsionado por compromissos climáticos de grandes empresas tecnológicas e por novas exigências regulatórias que obrigam, por exemplo, à correspondência entre consumo e produção de energia limpa em tempo real. A escolha da localização de novos data centers, portanto, está cada vez mais ligada à viabilidade de integrar fontes de energia renovável com baixos custos e baixa intensidade carbónica. 

PPAs: contratos para garantir energia renovável 

Uma das soluções que mais tem ganhado espaço neste contexto são os Acordos de Compra de Energia (Power Purchase Agreements – PPAs). Estes contratos estabelecem, por um período determinado, a compra de energia de fontes renováveis, como solar ou eólica, produzida fora do local onde está o data center. 

Ao contrário de depender da energia fornecida pela rede pública, que pode ter origens fósseis, ou de instalar sistemas próprios de geração renovável (como painéis solares no local), os PPAs oferecem um modelo flexível e escalável de acesso a energia limpa, ao mesmo tempo que permitem uma contabilidade mais rigorosa das emissões de carbono das empresas. 

O desafio da correspondência horária 

À medida que os objetivos ambientais se tornam mais ambiciosos, também crescem os desafios operacionais. Uma tendência emergente entre operadores de data centers é a correspondência horária (24/7), ou seja, alinhar cada hora de consumo com uma hora correspondente de geração de energia renovável. 

Esta abordagem representa um salto em complexidade: exige portfólios energéticos diversificados, que combinem fontes como energia solar e eólica com sistemas de armazenamento em baterias, muitas vezes distribuídos por diferentes regiões para garantir complementaridade. 

Para explorar os custos e as implicações desta estratégia, um estudo recente, de analistas da Aurora Energy Research, desenvolveu uma ferramenta de otimização energética, capaz de simular diferentes cenários de contratação de energia em alta resolução temporal. O modelo permitiu analisar como variam os custos conforme aumentam as metas de cobertura com energia renovável horária. 

Na Alemanha, por exemplo, garantir 80% de cobertura horária com energia renovável resultaria num aumento de apenas 13% no custo total da eletricidade, comparado ao preço médio do mercado. No entanto, à medida que se eleva a ambição — 90% e 95% de cobertura horária — os custos sobem significativamente, chegando a 40% e 80% de acréscimo, respetivamente. Isto acontece porque, nesses níveis, é necessário adquirir volumes muito superiores de energia (muitas vezes em horários de menor procura), o que gera excedentes que têm de ser revendidos ou mesmo desperdiçados. 

Riscos e oportunidades para os operadores 

Esses resultados revelam um ponto crítico: a ambição ambiental precisa ser equilibrada com os riscos financeiros. À medida que mais energia é adquirida para cumprir metas ambientais rigorosas, cresce também a exposição dos operadores às flutuações dos mercados energéticos. 

Para mitigar esses riscos, duas estratégias surgem como fundamentais o armazenamento de energia, que permite guardar o excesso de geração renovável para uso posterior, e a flexibilidade na procura, como o ajustamento dos horários de consumo para coincidir com picos de produção renovável, uma prática conhecida como load shifting. 

Estas abordagens não só ajudam a reduzir custos, como aumentam a resiliência das operações perante a volatilidade do mercado energético.