
O novo relatório Northwest European Hydrogen Monitor 2025, publicado pela Agência Internacional de Energia (IEA), reforça o papel estratégico que o hidrogénio de baixas emissões pode desempenhar na descarbonização da economia europeia, nomeadamente na região noroeste da Europa, onde se concentra cerca de 40% da procura total de hidrogénio do continente.
A região beneficia de vantagens estruturais únicas: grande potencial renovável no Mar do Norte, capacidade de armazenamento de carbono e uma infraestrutura de gás já interligada que pode ser parcialmente reaproveitada para transportar hidrogénio de forma eficiente. Juntas, estas condições posicionam a região como líder na transição energética baseada no hidrogénio.
Metas ambiciosas, mas progresso lento
Os países analisados no relatório, incluindo Alemanha, França, Países Baixos, Dinamarca e Bélgica, definiram metas ambiciosas para acelerar a produção de hidrogénio de baixas emissões. No total, a região planeia atingir 35 gigawatts (GW) de capacidade instalada de eletrólise até 2030. Esta capacidade permitirá produzir hidrogénio “verde”, utilizando eletricidade renovável para separar a água em oxigénio e hidrogénio, sem emissões de carbono.
No entanto, o relatório alerta para um desfasamento preocupante entre os objetivos anunciados e o estado atual dos projetos. Embora exista um número elevado de projetos anunciados, mais de 90% ainda se encontram nas fases iniciais, seja em estudo de viabilidade, conceito técnico ou planeamento preliminar. Apenas uma pequena fração (menos de 8%) já está em construção ou alcançou uma decisão final de investimento (Final Investment Decision – FID), que é o compromisso formal necessário para avançar para a execução.
Este cenário indica que, embora o potencial seja elevado e os compromissos públicos estejam definidos, a concretização no terreno ainda enfrenta obstáculos significativos, como falta de financiamento, incertezas regulatórias e ausência de contratos de compra a longo prazo que deem viabilidade económica aos projetos.
Políticas e financiamento: os fatores críticos
Para que estes projetos avancem e as metas sejam atingidas, o relatório sublinha que é essencial existir um enquadramento político e regulamentar claro, estável e eficaz. Entre os mecanismos destacados estão:
- O Pacote Europeu de Descarbonização do Gás, que estabelece as bases legais e técnicas para a integração do hidrogénio nas redes energéticas existentes;
- O Hydrogen Bank da União Europeia, uma ferramenta criada para apoiar o financiamento da produção e consumo de hidrogénio renovável, reduzindo riscos para investidores;
- Os contratos de diferença (CfD) já implementados em países como França e Alemanha, que garantem um preço fixo ao produtor de hidrogénio verde, compensando eventuais diferenças face ao preço de mercado, o que dá previsibilidade ao investimento.
Estas medidas são cruciais para reduzir a incerteza, atrair capital privado e criar condições para o surgimento de um verdadeiro mercado europeu de hidrogénio de baixas emissões.
Portugal também em destaque
Portugal surge também referenciado no relatório como um dos países selecionados no primeiro leilão do Hydrogen Bank da União Europeia (IF23 Auction). Dois projetos portugueses foram escolhidos entre mais de 130 candidaturas e vão beneficiar de apoio financeiro por um período de 10 anos. Os projetos abrangem áreas como produção de e-metano, amoníaco para fertilizantes, transporte rodoviário e usos industriais, colocando Portugal entre os primeiros a avançar no terreno com hidrogénio renovável competitivo. Este reconhecimento europeu reforça o papel que o país pode desempenhar na cadeia de valor do hidrogénio verde.
Infraestrutura e Comércio: próximo passo
A construção de uma rede regional de hidrogénio com cerca de 13.000 km e o desenvolvimento de armazenamento subterrâneo (até 16 TWh de capacidade) são passos cruciais para tornar este vetor energético competitivo e funcional. A região também está no centro das rotas comerciais globais de hidrogénio, representando cerca de 60% do volume de importações com destino definido até 2030.
Implicações para as Cidades
Cidades comprometidas com a neutralidade climática, como as que integram a Cidades pelo Clima, devem acompanhar este desenvolvimento com atenção. O hidrogénio verde poderá tornar-se uma alternativa viável em setores como transportes pesados, abastecimento de calor urbano e descarbonização de indústrias locais. Criar condições para a sua adoção, através de infraestruturas, regulamentação local e parcerias estratégicas, será essencial para aproveitar o seu potencial.
Consultar relatório completo (em inglês) – Northwest European Hydrogen Monitor 2025