Reduzir o metano na agricultura: novas soluções para um desafio global 

Todos ouvimos falar do metano, um gás de efeito de estufa cujas emissões contribuem significativamente para as alterações climáticas. O seu potencial de aquecimento global é cerca de 28 vezes superior ao do dióxido de carbono (CO₂) num período de 100 anos, como é referido no IPCC Fifth Assessment Report (AR5) 

A agricultura é uma das principais fontes de emissões de metano (46% do total), sendo a produção de gado um dos maiores contribuintes. O metano é libertado principalmente através da fermentação entérica, um processo natural que ocorre no sistema digestivo de ruminantes como vacas, ovelhas e cabras. Durante a digestão, os microrganismos presentes no rúmen (um dos compartimentos do estômago desses animais) decompõem os alimentos fibrosos, produzindo metano (CH₄), que é eliminado sobretudo por eructação (arroto). 55-60% das emissões de metano na agricultura são produzidas desta forma. 

O estrume representa entre 6% e 8% das emissões agrícolas de metano, embora alguns estudos indiquem que este valor pode ser substancialmente mais elevado. Em grandes explorações leiteiras e suinícolas de produção intensiva, o estrume é frequentemente removido com jatos de água e armazenado em tanques ou lagoas na forma líquida ou semilíquida. Estes sistemas húmidos criam condições ideais para a proliferação de microrganismos produtores de metano. Por outro lado, explorações agrícolas de pequena e média dimensão, nas quais o estrume é geralmente armazenado em estado sólido ou seco ao sol, emitem quantidades significativamente menores de metano. 

Outro fator importante a ter em conta é a produção de arroz em campos inundados, responsável por 8 a 20% das emissões de metano oriundas da agricultura. Isto acontece porque a presença constante de água impede a entrada de oxigénio no solo, criando um ambiente ideal para bactérias anaeróbicas que decompõem a matéria orgânica, libertando metano no processo. Esse gás dispersa-se na atmosfera através da água e das próprias plantas de arroz. Como o metano tem um impacto climático muito mais intenso do que o CO₂ a curto prazo, o cultivo de arroz em terrenos alagados é um dos grandes responsáveis pelas emissões globais de metano. 

Como reduzir a produção de metano? 

Recentemente, diversas iniciativas e estudos, como os publicados pelo World Resources Institute (WRI), têm destacado soluções inovadoras para reduzir essas emissões. 

Uma das formas mais promissoras de reduzir as emissões de metano na pecuária é impedir a sua formação no processo digestivo dos animais. Para isso, têm sido desenvolvidos aditivos alimentares inibidores de metano, que podem diminuir significativamente a produção desse gás. O composto sintético 3-NOP (3-nitroxypropanol), por exemplo, pode reduzir as emissões em cerca de 30% e já foi aprovado para uso em bovinos de carne e leite em mais de 60 países. Contudo, a sua implementação enfrenta desafios como o custo elevado e a aceitação por parte dos produtores e consumidores. 

Outra solução natural em estudo é a alga vermelha (Asparagopsis), cuja eficácia real ficou em cerca de 30% nos testes a longo prazo realizados. No entanto, a extração do seu composto ativo, o bromofórmio, levanta preocupações de saúde pública e desafios a nível de produção em larga escala. 

Além dos aditivos alimentares, a seleção genética de bovinos menos emissores de metano surge como uma estratégia de impacto duradouro. Estudos indicam que algumas vacas emitem, naturalmente, até 22% menos metano do que outras, e essas características podem ser transmitidas às gerações seguintes. Projetos piloto no Canadá e na Nova Zelândia já estão em fase de teste desta abordagem, mas ainda são necessários mais estudos e programas de educação para agricultores. 

Outra tecnologia emergente são as vacinas anti-metano, que estão em fase experimental e podem reduzir as emissões em cerca de 30%. Se forem bem-sucedidas, as vacinas terão grande potencial de adoção global, pois aproveitam a infraestrutura já existente para vacinação de gado. 

Já no que toca à gestão do estrume, a produção de biogás tem sido amplamente promovida como solução, transformando o metano em energia. No entanto, os custos elevados, os riscos de fugas de metano e os impactos na qualidade da água geram dúvidas sobre a real eficácia ambiental. Alternativas como a separação sólido-líquido do estrume podem reduzir até 60% das emissões e apresentam custos mais reduzidos. Outra técnica promissora é a acidificação do estrume, que inibe a produção de metano e já é utilizada na Dinamarca, reduzindo as emissões até 89% nos testes efetuados. 

Apesar dos avanços, muitas destas soluções ainda requerem investimento, regulamentação e aceitação por parte dos produtores. Contudo, combinadas, podem representar um enorme avanço na luta contra as emissões de metano na pecuária. 

Outra estratégia importante envolve mudanças na gestão das áreas de cultivo, especialmente dos campos de arroz. Técnicas como o manejo alternado de água – que permite que os campos não permanecem constantemente inundados – demonstraram ser eficazes na redução das emissões de metano, sem comprometer a produtividade. Além disso, o manejo adequado dos resíduos orgânicos e a compostagem de dejetos agrícolas também têm sido apontados como alternativas viáveis para diminuir o impacto ambiental da atividade agrícola. 

O WRI enfatiza que, para alcançar reduções significativas nas emissões de metano, é fundamental combinar soluções tecnológicas com políticas públicas de apoio e incentivos financeiros para os agricultores. Diversos estudos demostram que os investimentos em tecnologias de mitigação de metano podem gerar benefícios a curto prazo, pois o metano é um poluente de vida curta. Isso significa que, ao reduzir suas emissões, podemos observar uma melhoria relativamente rápida na taxa de aquecimento global. 

Além dos avanços tecnológicos, é essencial promover a troca de conhecimentos entre agricultores, cientistas e responsáveis políticos. A colaboração entre esses diferentes setores possibilita a adaptação das melhores práticas às condições locais, contribuindo para a criação de sistemas de produção mais sustentáveis e resilientes. 

Reduzir o metano na agricultura é uma peça chave na luta contra as alterações climáticas. Iniciativas que conciliam modificações na alimentação do gado, uma melhor gestão da água em campos de arroz e práticas adequadas de manejo dos resíduos agrícolas oferecem um caminho positivo na redução das emissões. Com o apoio de políticas públicas e incentivos financeiros, estas soluções podem transformar o setor agrícola, promovendo não só a sustentabilidade ambiental, mas também o desenvolvimento económico e social das comunidades rurais.