Investigação analisa os maiores obstáculos à redução das emissões de carbono no setor da construção 

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O estudo “Socio-technical barriers to decarbonising the built environment: A comprehensive synthesis”, publicado na Research Square por Hannah Barry, Paul Ruyssevelt e Michael Fell da University College London, procede a uma análise dos principais entraves à redução das emissões de carbono no setor da construção.  

O que é “carbon lock-in”? 

Um conceito central do estudo é o “carbon lock-in”, que descreve a situação em que uma economia, setor ou empresa fica presa a infraestruturas, tecnologias e comportamentos altamente dependentes de combustíveis fósseis, dificultando a transição para alternativas mais sustentáveis. No setor da construção, este fenómeno traduz-se num ciclo vicioso que perpetua o uso de materiais, infraestruturas e práticas de elevado impacto ambiental. A dificuldade em adotar soluções mais sustentáveis deve-se, em grande parte, a investimentos anteriores em tecnologias poluentes, regulamentações desatualizadas e hábitos enraizados no mercado. 

Para compreender melhor este ciclo, a pesquisa identificou 95 barreiras agrupadas em cinco dimensões: económicas, políticas, sociais, comportamentais e técnicas. O estudo concluiu que as barreiras económicas têm o maior impacto, seguidas pelas políticas. No entanto, destaca-se também a crescente importância dos fatores comportamentais e sociais, como a resistência cultural à mudança e a aversão institucional ao risco. 

Mas estas barreiras não atuam separadamente – antes reforçam-se mutuamente. Por exemplo, a falta de incentivos financeiros para construções sustentáveis desincentiva empresas a inovarem, enquanto políticas públicas insuficientes impedem mudanças sistémicas. Para romper esse ciclo, é necessário adotar estratégias integradas, que considerem tanto os fatores económicos e regulatórios quanto os sociais e tecnológicos, adaptando-se ao contexto específico de cada região. 

Os autores argumentam que intervenções isoladas raramente geram impacto sustentável. O estudo destaca que a transição para um setor da construção mais sustentável exige uma abordagem coordenada e multidimensional. A colaboração entre setores – incluindo governos, empresas, instituições académicas e a sociedade civil – é essencial para impulsionar as inovações e superar barreiras estruturais. A educação ambiental desempenha um papel crucial, dado que pode capacitar os profissionais da construção e sensibilizar os consumidores para a importância de escolhas sustentáveis. Além disso, o apoio técnico, como a existência de diretrizes claras para a utilização de materiais de baixo carbono e a assistência na implementação de novas tecnologias, facilita a adoção de práticas mais ecológicas. 

Para viabilizar essa transformação, o estudo recomenda o desenvolvimento de instrumentos de financiamento específicos, como incentivos fiscais, subsídios e linhas de crédito ajustadas às necessidades do setor. A adoção de políticas públicas de longo prazo é igualmente essencial, pois estas garantem previsibilidade e criam um ambiente regulatório estável, encorajando os investimentos em soluções sustentáveis. 

Outra estratégia essencial é a criação de mercados para materiais e práticas de construção ecológicas. Isso pode ser feito através de regulamentações que exijam o uso de materiais sustentáveis em projetos públicos, certificações que agreguem valor aos produtos com menor pegada de carbono e mecanismos que reduzam o custo desses materiais, tornando-os mais acessíveis. Com essas iniciativas, de acordo com os autores do estudo, é possível minimizar a inércia institucional e económica, acelerando a descarbonização do setor. 

🔗 Ler o estudo completo: 
https://www.researchsquare.com/article/rs-5926332/v1