Limites Planetários: vivemos fora do espaço seguro da Humanidade  

As cidades enfrentam diariamente os impactos das crises ambientais globais: ondas de calor, escassez de água, poluição atmosférica e perda de biodiversidade. Estes fenómenos não são isolados, mas refletem a pressão coletiva que a humanidade exerce sobre o sistema terrestre. Para compreender até onde podemos ir sem comprometer o futuro, a ciência desenvolveu o conceito de Limites Planetários

O que são os Limites Planetários? 

Proposto em 2009 por Johan Rockström e uma equipa de cientistas, este quadro identifica nove processos biofísicos fundamentais que mantêm a estabilidade da Terra, desde o clima e os oceanos até à biodiversidade e aos ciclos de nutrientes. Estes limites funcionam como linhas vermelhas: atravessá-las aumenta o risco de mudanças abruptas e irreversíveis, que podem pôr em causa as condições de vida das sociedades humanas. 

O estado do planeta em 2023 

A atualização mais recente, publicada na revista Science Advances, quantificou pela primeira vez os nove limites e trouxe um alerta claro: seis dos nove já foram ultrapassados

  • Alterações climáticas – ultrapassado, com concentrações de CO₂ em contínuo aumento. 
  • Biosfera (biodiversidade) – gravemente comprometida, com perda genética e funcional dos ecossistemas. 
  • Uso da terra – florestas tropicais, boreais e temperadas já abaixo de níveis seguros. 
  • Água doce – tanto águas superficiais como a humidade do solo estão em desequilíbrio. 
  • Ciclos de nutrientes (N e P) – altamente perturbados pela agricultura intensiva. 
  • Entidades novas (plásticos, químicos, manipulação genética, etc.) – numa zona de alto risco. 

Dentro dos limites permanecem a camada de ozono (em recuperação graças ao Protocolo de Montreal), a acidificação dos oceanos (próxima do limiar) e os aerossóis atmosféricos

Porque isto importa às cidades 

As cidades concentram população, consumo e emissões. São também os locais mais expostos às consequências de transgredir estes limites: ilhas de calor urbano, crises de abastecimento de água, cheias, ar irrespirável, insegurança alimentar. 

Ao mesmo tempo, as cidades têm um papel decisivo: 

  • Podem reduzir drasticamente as emissões com transportes sustentáveis e eficiência energética; 
  • Proteger e aumentar espaços verdes que reforçam a biodiversidade e a resiliência climática; 
  • Promover uma economia circular que limite a poluição e o desperdício; 
  • Educar e mobilizar cidadãos para estilos de vida compatíveis com o “espaço seguro” definido pela ciência. 

Um desafio comum 

Os Limites Planetários recordam-nos que vivemos num sistema interligado e que nenhuma fronteira nacional protege das consequências globais. A segurança climática e ambiental só será possível se respeitarmos, em conjunto, os nove limites. 

As cidades, pela sua escala e capacidade de inovação, podem e devem ser protagonistas desta transformação. O caminho para um futuro sustentável exige alinhar políticas locais com esta visão global, para que continuemos a viver dentro do espaço seguro para a humanidade.