A Direção-Geral da Ação Climática (DG CLIMA) da Comissão Europeia publicou recentemente três estudos estratégicos que analisam a criação de um programa de compra de remoções permanentes de dióxido de carbono (CDR) em toda a União Europeia. O objetivo é estimular o investimento, apoiar o avanço tecnológico e garantir que a Europa atinja as suas metas de neutralidade climática.
O que são CDR?
Os CDR (Carbon Dioxide Removals) — ou remoções de dióxido de carbono — referem-se a processos que capturam CO₂ da atmosfera e o armazenam de forma duradoura, impedindo o seu regresso ao ar. Podem recorrer a soluções tecnológicas, como a captura direta de carbono do ar (DAC) ou a mineralização do carbono, ou a soluções baseadas na natureza, como florestação, restauro de solos e armazenamento de carbono no oceano ou em materiais de construção.
O objetivo destas remoções é compensar as emissões residuais — aquelas que não podem ser completamente eliminadas — e, a longo prazo, alcançar emissões líquidas negativas.
As remoções permanentes distinguem-se das temporárias (como o sequestro florestal) por garantirem armazenamento de CO₂ durante séculos ou milénios, seja em formações geológicas, minerais ou produtos de longa duração.
Porque é que a UE quer investir em remoções permanentes?
Para alcançar a neutralidade climática até 2050 e evoluir para emissões líquidas negativas, a Europa precisa de aumentar rapidamente a capacidade de remover CO₂ da atmosfera de forma permanente. Apesar dos avanços tecnológicos, a procura por soluções de CDR ainda é limitada, o que impede a expansão de projetos em larga escala.
Os novos relatórios visam colmatar essa lacuna, propondo um programa europeu de compra de créditos de remoção — um mecanismo que possa gerar procura estável e previsível, encorajando o investimento privado e público neste setor emergente.
Os três relatórios principais
An EU Purchasing Programme for Permanent Carbon Removals
Este relatório analisa opções de política e recomendações para o curto prazo (2025–2030).
Sugere que a Comissão Europeia adote um programa que:
- Compre diferentes tipos de créditos de remoção para estimular o mercado;
- Utilize financiamento misto (orçamento da UE, contribuições dos Estados-Membros e capital privado);
- Se articule com programas existentes, como o Innovation Fund, para maximizar eficiência e transparência.
Versão oficial na EU Publications Office
Carbon Removals in the EU: Review of Current Carbon Removal Projects and Early-stage Financing
Fornece uma visão abrangente dos projetos de remoção de carbono existentes e planeados até 2035, avaliando tecnologias, custos, barreiras e necessidades de financiamento.
Apresenta também casos práticos de empresas e centros de investigação que já estão a testar soluções de CDR em contexto europeu.
Ler o relatório completo na EU Publications Office
Carbon Removals in the EU: Assessment of Existing EU Funding Programmes and New Funding Models to Increase Carbon Removal Supply
Analisa programas europeus de financiamento, como o Innovation Fund e o Horizon Europe, e propõe novos modelos financeiros para fortalecer os projetos de remoção em fase inicial, facilitando a entrada de investidores e parceiros industriais.
Ler o relatório completo no site da Ecologic Institute
Principais conclusões
- A falta de procura é hoje o maior obstáculo para a expansão das remoções permanentes.
- Um programa de compras europeu pode criar a estabilidade necessária para atrair investimento e acelerar o mercado.
- Financiamento misto e colaboração público-privada serão fundamentais para garantir impacto e escala.
- A integração com programas existentes evita redundâncias e aumenta a eficácia das políticas climáticas.
- Critérios de qualidade e governança robustos devem acompanhar qualquer novo mecanismo de créditos de remoção.
Caminho para o futuro
Ao estudar a criação de um programa europeu de compra de remoções de carbono, a União Europeia dá um passo importante para transformar a neutralidade climática em realidade concreta.
A combinação de ciência, financiamento e ação local será decisiva para que as próximas décadas sejam marcadas não apenas por reduções, mas por remoções reais e duradouras de carbono da atmosfera.
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