Biocombustíveis podem agravar a crise ambiental e alimentar, alerta novo relatório 

O relatório “Diverted Harvest: Environmental Risk from Growth in International Biofuel Demand”, publicado pela Cerulogy, lança um aviso claro: a expansão global dos biocombustíveis — muitas vezes apresentada como uma solução limpa para a transição energética — pode estar a aumentar as emissões e a pressionar os ecossistemas agrícolas e alimentares

Segundo o estudo, 32 milhões de hectares de terra agrícola foram usados em 2023 para produzir matérias-primas destinadas a biocombustíveis como milho, soja, cana-de-açúcar e óleo de palma. Se essas terras fossem restauradas como floresta ou vegetação natural, poderiam sequestrar 428 milhões de toneladas de CO₂ por ano, ou seja, quase o dobro do benefício climático obtido ao substituir combustíveis fósseis

Biocombustíveis e segurança alimentar: uma relação tensa 

O relatório mostra que o aumento da procura por biocombustíveis concorre diretamente com a produção de alimentos. Em 2023, a indústria utilizou 200 milhões de toneladas de milho e 40 milhões de toneladas de óleos vegetais, recursos suficientes para alimentar mais de um bilião de pessoas

Esta dinâmica, explica a Cerulogy, pressiona os preços globais dos alimentos e aumenta a vulnerabilidade de comunidades mais pobres, sobretudo em países dependentes da importação de cereais e óleos. 

O estudo destaca ainda o impacto da mudança indireta no uso do solo (ILUC- Indirect Land Use Change). À medida que terras agrícolas são desviadas para biocombustíveis, novas áreas — muitas vezes florestas tropicais ou savanas — são convertidas em plantações, provocando emissões adicionais e perdas de biodiversidade irreversíveis. Em alguns casos, as emissões resultantes do desmatamento para produção de biocombustíveis superam as dos combustíveis fósseis que deveriam substituir. 

Uma transição energética que exige rigor 

A criação da Global Biofuels Alliance em 2023, liderada pela Índia, acelerou o debate internacional sobre o papel dos biocombustíveis na transição energética. O objetivo declarado da aliança é promover o uso de biocombustíveis sustentáveis (como o etanol e o biodiesel), diversificar fontes energéticas e reduzir a dependência do petróleo, especialmente nos países em desenvolvimento. 

No entanto, o relatório da Cerulogy alerta que a GBA, na forma como está desenhadanão estabelece critérios ambientais rigorosos nem limites claros ao uso de culturas alimentares (como milho, cana-de-açúcar e óleo de palma) para produção de combustível. Conclusão: o crescimento deste setor pode representar um retrocesso para a ação climática

O estudo defende o foco em biocombustíveis avançados — produzidos a partir de resíduos, subprodutos ou matérias não alimentares — como alternativa sustentável para reduzir emissões sem comprometer a segurança alimentar. 

Para a Cidades pelo Clima, o relatório Diverted Harvest é um lembrete de que as soluções climáticas devem equilibrar energia, ecossistemas e justiça social. 
Políticas de descarbonização eficazes exigem transparência nas cadeias de abastecimento, salvaguardas ambientais e mecanismos de equidade global. 

O futuro da ação climática passa não apenas por reduzir emissões, mas por garantir que as soluções não criam novos problemas sociais e ecológicos

Ler o relatório completo: www.cerulogy.com