Dia da Sobrecarga da Terra 2025: Portugal e União Europeia esgotam os seus recursos naturais cada vez mais cedo 

Em 2025, Portugal atingiu o seu Dia da Sobrecarga da Terra a 5 de maio — 23 dias mais cedo do que em 2024. A União Europeia assinalou esta data a 29 de abril, também antes do registado no ano anterior (dia 3 de maio). O avanço destas datas revela uma pressão crescente sobre os recursos naturais, resultado de padrões de consumo e produção que continuam a exceder a capacidade regenerativa do planeta. 

Este indicador é calculado pela Global Footprint Network, que compara a biocapacidade da Terra — a capacidade de regenerar recursos e absorver resíduos — com a pegada ecológica da Humanidade. Quando a pegada excede a biocapacidade, entramos em défice ecológico. O Dia da Sobrecarga da Terra marca o momento em que esse défice começa. 

Porque está o Dia da Sobrecarga a chegar mais cedo? 

Embora parte da alteração nas datas se deva à atualização dos modelos de cálculo e aos dados estatísticos mais recentes, o adiantamento reflete também um agravamento real na utilização dos recursos. Em Portugal, o aumento da pegada ecológica está ligado sobretudo ao consumo energético, uso do solo e emissões relacionadas com transporte e alimentação. A nível europeu, o padrão é semelhante, com o acréscimo de pressões industriais e urbanas. 

A antecipação recorrente deste dia mostra que continuamos a viver acima das possibilidades do planeta. Se todos vivessem como os europeus, seriam necessários quase 3 planetas Terra para sustentar o consumo atual. 

O que pode ser feito? Caminhos para inverter a tendência 

A Global Footprint Network destaca cinco áreas prioritárias para reverter esta trajetória.  

  1. Redução das emissões de carbono 

A queima de combustíveis fósseis continua a ser o principal fator da pegada ecológica global. A transição para energias limpas, como a solar, eólica e hídrica, é essencial para reduzir emissões. Isto implica não só alterações no setor energético, mas também na mobilidade, na indústria e na construção. 

2. Diminuição do desperdício alimentar 
Cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo são desperdiçados. Combater este problema passa por melhorar a cadeia logística, sensibilizar os consumidores, incentivar doações alimentares e criar políticas públicas eficazes. Reduzir o desperdício poupa energia, água, terra e reduz as emissões associadas à decomposição de alimentos. 

3. Promoção de energias renováveis 
Aumentar a produção de energia a partir de fontes renováveis contribui para a soberania energética e reduz o impacto ambiental. Incentivos à produção descentralizada, comunidades de energia e a eletrificação de sistemas de aquecimento e transporte são medidas cada vez mais urgentes. 

4. Adoção de práticas agrícolas sustentáveis 
A agricultura intensiva tem impactos profundos nos solos, na água e na biodiversidade. Práticas como a agricultura regenerativa, rotação de culturas, uso racional da água e agroecologia ajudam a manter a produtividade sem esgotar os recursos naturais. 

5. Reflorestação e conservação de ecossistemas 
As florestas desempenham um papel vital na absorção de carbono, regulação do clima e preservação da biodiversidade. Projetos de reflorestação e recuperação de habitats naturais, bem como a proteção de áreas sensíveis, são fundamentais para restaurar o equilíbrio ecológico. 

O que pode cada um de nós fazer? 

Além das políticas públicas e das iniciativas institucionais, é essencial que cada pessoa reflita e repense o seu impacto ecológico. A Global Footprint Network disponibiliza uma calculadora de pegada ecológica que ajuda a perceber quanto consumimos e o que podemos mudar, desde escolhas alimentares até ao uso de energia ou transporte. 

A antecipação do Dia da Sobrecarga da Terra não é inevitável. Reverter esta tendência exige compromisso político, inovação tecnológica e, sobretudo, uma mudança de mentalidade coletiva.