Subida do nível do mar acelera: dados de 2024 superam as previsões 

Segundo dados do programa Copernicus da União Europeia, o ano de 2024 viu a maior taxa anual de subida do nível do mar já registada desde o início dos registos por satélite: 5,9 milímetros por ano. Esta aceleração sugere que as previsões anteriores podem ser conservadoras e levanta novos alertas sobre o ritmo das alterações climáticas e os impactos diretos nas cidades costeiras de todo o mundo. 

Subida do nível do mar acelera: dados de 2024 superam as previsões

Por que está o nível do mar a subir tão depressa? 

A subida do nível do mar resulta principalmente de duas causas principais: a expansão térmica dos oceanos – à medida que o planeta aquece, a água do mar aquece e expande-se – e a fusão de gelo terrestre – a perda acelerada de gelo da Groenlândia e da Antártida está a adicionar grandes volumes de água aos oceanos. 

Em 2024, mais de dois terços da subida registada foram atribuídos ao aquecimento oceânico, um reflexo direto do calor recorde acumulado nos mares. 

As previsões falham por defeito? 

Estudos recentes, como o publicado na revista The Cryosphere (2025), indicam que mesmo os cenários mais conservadores subestimam o potencial de subida do nível do mar. A fusão do gelo polar, antes considerada um processo lento e estável, está a revelar-se muito mais dinâmica do que o previsto. Em cenários com emissões elevadas, o nível médio global do mar pode subir até 2 metros até 2100. Este é um valor que afetaria gravemente dezenas de megacidades costeiras, incluindo Nova Iorque, Xangai, Lagos, Rio de Janeiro e Jacarta. 

Impactos nas cidades: riscos reais e urgentes 

Cidades costeiras de baixa altitude estão entre os locais mais vulneráveis. A subida do nível do mar traz consequências que já são visíveis: 

  • Aumento das inundações urbanas e da erosão costeira; 
  • Danos a infraestruturas críticas, como redes de saneamento, transportes e eletricidade; 
  • Encarecimento do seguro e desvalorização de imóveis
  • Risco de deslocação forçada de comunidades inteiras

Segundo o Banco Mundial, até 1 biliões de pessoas podem viver em áreas em risco de inundação até ao final do século, muitas delas em países em desenvolvimento, onde os recursos de adaptação são limitados. 

A subida do mar levanta também questões geopolíticas e jurídicas. O desaparecimento físico de territórios insulares, como partes de Tuvalu, Maldivas ou Kiribati, está a desafiar o direito internacional: um país sem território visível continua a existir? Mantém os seus direitos marítimos? 

A Comissão de Direito Internacional da ONU publicou recentemente um parecer afirmando que os Estados ameaçados devem manter o seu estatuto jurídico e soberania, mesmo que fiquem submersos. Esta posição visa proteger populações, fronteiras marítimas e acesso a recursos. 

Efeitos esperados da subida do nível do mar em Portugal 

Estudos do LNEC, IPMA e Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM – Universidade de Aveiro) apontam para: 

  • Subida média até 1 metro em 2100 nos cenários mais pessimistas; 
  • Impactos severos em zonas costeiras como Aveiro, Figueira da Foz, Lisboa, Setúbal, Ria Formosa (Algarve)
  • Maior risco de inundações, salinização de aquíferos, perda de praias e infraestrutura portuária. 

O que as cidades podem (e devem) fazer 

A adaptação é inevitável e urgente. Algumas medidas que as cidades costeiras já estão a implementar incluem: 

  • Construção ou reforço de barreiras e diques marítimos
  • Reconfiguração urbana, incluindo zonas de recuo planeadas; 
  • Investimento em infraestruturas resilientes à água
  • Promoção de soluções baseadas na natureza, como mangais e zonas húmidas; 
  • Preparação para eventuais migrações internas controladas

Ao mesmo tempo, a redução de emissões continua a ser essencial. Limitar o aquecimento global a 1,5 °C é a única forma de conter os piores cenários. 

Fontes e Leitura Adicional