Um relatório preliminar do Joint Research Centre (JRC) da Comissão Europeia, publicado em 2025, chama a atenção para a necessidade urgente de as cidades irem além das suas fronteiras administrativas quando contabilizam emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
O estudo, intitulado Tackling out-of-boundary emissions in climate change mitigation action at city level – State-of-the-art on greenhouse gas accounting and mitigation action, including scope 1, 2 and 3 emissions (JRC142411), coordenado por Joana Bastos e com contributos de investigadores do JRC e de parceiros europeus, alerta que os atuais inventários urbanos de emissões tendem a subestimar significativamente o impacto climático das cidades, ao excluírem as chamadas emissões de “scope 3”, associadas à produção, transporte e consumo de bens e serviços fora dos limites territoriais das cidades – enquanto os scopes 1 e 2 contabilizam emissões diretas dentro da cidade como, por exemplo, carros, aquecimento e eletricidade consumida.
Segundo o relatório, as cidades europeias são responsáveis por 65% da procura energética e das emissões globais de gases de efeito de estufa (GEE), mas a maior parte destas emissões está ligada a cadeias de abastecimento globais, como a produção de alimentos, materiais de construção ou transportes internacionais. Ignorar este impacto significa perder oportunidades críticas de mitigação.
O JRC defende que uma contabilização mais abrangente, que inclua perspetivas de ciclo de vida e metodologias de pegada de carbono de consumo, permitirá às cidades desenhar políticas mais eficazes, apoiar a economia circular e reduzir riscos de “fugas de carbono” (quando as emissões são transferidas para outras regiões).
Boas práticas já em curso
O relatório preliminar também aponta exemplos de boas práticas já adotadas por cidades da EU Mission for 100 Climate-Neutral and Smart Cities e do Pacto de Autarcas para o Clima e Energia, que começam a integrar estas emissões ocultas nos seus planos de ação climática.
- Amesterdão adotou uma estratégia de economia circular que inclui metas de redução de emissões associadas a materiais de construção e resíduos, ligando a política climática ao uso eficiente de recursos.
- Estocolmo desenvolveu inventários complementares de pegada de consumo, avaliando as emissões associadas ao estilo de vida dos seus habitantes e cruzando esses dados com políticas de mobilidade e habitação.
- Londres publicou relatórios de pegada de carbono de consumo, onde avalia o impacto global do consumo de bens e alimentos importados para a cidade.
- Copenhaga está a testar indicadores de emissões de ciclo de vida para materiais de construção em novos projetos urbanos, reduzindo a chamada “carbon embodied” (carbono incorporado).
Em síntese, o relatório, apesar de preliminar, recomenda o desenvolvimento de um quadro metodológico flexível e harmonizado, que ajude as cidades europeias a medir, comparar e reduzir de forma consistente o conjunto das suas emissões, dentro e fora das fronteiras.