Produzir eletricidade em conjunto, pagar menos na fatura e ainda ajudar o planeta. Esta é a promessa das comunidades de energia, onde grupos de cidadãos, autarquias e pequenas empresas se organizam para gerar energia renovável local.
Mas será que todas cumprem o que prometem?
Para permitir realizar de forma consistente e comparável essa análise, Georgios D. Lamprousis e Spyridon K. Golfinopoulos, investigadores da Universidade do Egeu, na Grécia, publicaram, em julho de 2025, na revista Urban Science, o IECPI – Índice de Desempenho de Comunidades de Energia.
O IECPI funciona como uma nota escolar de 0 a 100. Mede quatro grandes dimensões — ambiente, tecnologia, sociedade e economia — e analisa fatores que vão da redução de emissões de CO₂ à adoção de tecnologias inteligentes, passando pela participação cidadã, pela resiliência coletiva e pelo retorno económico sustentável.
Na prática, é uma fotografia completa que responde a uma pergunta simples: a comunidade está ou não a cumprir o que promete?
O retrato global
O índice foi aplicado a 60 comunidades de energia em vários países. Os resultados mostram que cerca de quatro em cada dez alcançaram notas altas, a maioria ficou no meio da tabela e apenas uma minoria obteve desempenhos fracos.
Em média, os pontos fortes foram claros: energia mais barata, maior uso de tecnologia e reduções visíveis de emissões. Mas nem tudo são boas notícias: muitas comunidades ainda têm dificuldade em garantir retorno financeiro estável ou em cumprir normas de certificação ambiental.
Outro dado relevante é que não existe um único modelo de sucesso. Algumas comunidades destacam-se pela inovação tecnológica, outras pela aposta ambiental, outras ainda pela inclusão social. Há também as que conseguem equilibrar tudo e as que revelam fragilidades em várias frentes.
Casos portugueses na lupa
Portugal surge com destaque na análise, mostrando exemplos contrastantes:
- Ilha do Corvo (Açores) – alcançou praticamente independência total com renováveis, um feito raro que ilustra como o isolamento pode estimular inovação.
- Lisboa – projetos de autoconsumo solar em bairros urbanos mostram como a produção local pode reduzir vulnerabilidades energéticas, um desafio crescente nas cidades.
- Valongo (Grande Porto) – os estudos centram-se na otimização tarifária e viabilidade económica, demonstrando que a transição energética também pode ser financeiramente sustentável.
Porque é que isto interessa?
A criação de um índice como o IECPI pode ter impacto direto no futuro das comunidades de energia.
- Para cidadãos e autarquias, funciona como uma bússola para perceber onde investir e o que melhorar.
- Para financiadores, ajuda a distinguir projetos sólidos dos que precisam de apoio extra.
- Para governos, fornece dados concretos para orientar políticas públicas e cumprir compromissos internacionais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
O IECPI deixa uma mensagem clara: não basta instalar painéis solares. É preciso garantir que a comunidade é participativa, resiliente e economicamente sustentável.
As comunidades de energia são uma das chaves da transição energética. Com o IECPI, passa a ser possível medir se estão mesmo a funcionar e perceber quem entrega energia mais limpa e barata, quem envolve melhor os cidadãos e quem constrói bases sólidas para assegurar durabilidade do projeto.
Mais do que um índice, é uma ferramenta de confiança para acelerar uma transição energética justa, participativa e sustentável.



