19 kg de roupa por pessoa: o peso da moda na Europa 

A gestão de resíduos têxteis tem sido uma preocupação crescente na Europa e em Portugal, impulsionada pelo aumento do consumo e descarte deste tipo de produtos. A Agência Europeia do Ambiente (EEA) publicou recentemente o relatório “Circularidade da cadeia de valor dos têxteis da UE em números”, que dá dados detalhados e atualizados sobre esta realidade. 

Segundo o relatório, em 2022, cada cidadão europeu comprou, em média, 19 kg de roupa, calçado e têxteis para o lar, um aumento de 2 kg em relação aos 17 kg estimados em 2019. Deste total, 8 kg referem-se a peças de vestuário, 7 kg a têxteis para o lar e 4 kg a calçado

O mais preocupante é o destino destes materiais após o uso: 85% dos resíduos têxteis gerados nas casas europeias não foram recolhidos separadamente e acabaram misturados com o lixo comum, sendo enviados para aterros ou incineração, o que inviabiliza a sua reutilização ou reciclagem. 

A situação em Portugal 

Em Portugal, os números são igualmente alarmantes. De acordo com dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), em 2023 foram descartadas quase 234 mil toneladas de resíduos têxteis, o que corresponde a aproximadamente 23,2 kg por habitante. Estes resíduos representaram 4,38% do total de resíduos urbanos, reforçando a urgência de criar sistemas eficazes de recolha e reciclagem a nível nacional. 

O papel da Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP) 

Uma das soluções apontadas para este problema é a Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP) — uma política ambiental em que os fabricantes, importadores e retalhistas assumem a responsabilidade pelos seus produtos após o fim de vida útil

No setor têxtil, isso significa que as marcas deverão financiar e garantir a recolha, seleção, reutilização, reciclagem ou eliminação adequada das roupas e calçado que colocam no mercado. Esta abordagem incentiva o design sustentável, a redução do desperdício e uma maior circularidade no ciclo de vida dos produtos

Em Portugal, a implementação da RAP para o setor têxtil ainda está em discussão. A experiência de países como a França, que aplica este modelo desde 2007, mostra que é possível aumentar significativamente a taxa de recolha seletiva e criar sistemas mais eficazes e equitativos. A França alcançou uma taxa de recolha de resíduos têxteis de 31%, superando a média da UE-27, que é de 22%. ​ 

Para enfrentar os desafios da gestão de resíduos têxteis, Portugal precisa de avançar com políticas públicas ambiciosas, incluindo a implementação efetiva da recolha seletiva de têxteis, conforme previsto na diretiva europeia que entrou em vigor em janeiro de 2025; a adoção de sistemas de RAP que envolvam os produtores de forma justa e transparente; o reforço da sensibilização dos consumidores, promovendo hábitos de consumo mais conscientes, como a reutilização e a compra em segunda mão. 

Estas ações são fundamentais para reduzir o impacto ambiental do setor têxtil e contribuir para uma economia mais circular, justa e sustentável