
No Dia Mundial do Ambiente, celebrado a 5 de junho, é importante destacar soluções acessíveis, eficazes e justas para enfrentar os desafios climáticos nas cidades. Uma dessas soluções já está ao nosso alcance: a bicicleta. Mais do que um meio de transporte, representa um instrumento de transformação urbana, com impacto direto na saúde pública, na qualidade do ar, na coesão social e na redução de emissões.
Contudo, em Portugal, o caminho para tornar a bicicleta parte do quotidiano continua a ser desafiante. A Bicicultura, cooperativa dedicada à promoção da mobilidade ativa, tem sido uma das principais vozes na construção de uma cultura da bicicleta inclusiva e participativa. Com trabalho de base comunitária, influência em políticas públicas e envolvimento em redes internacionais, a Bicicultura tem ajudado a repensar o papel da bicicleta na cidade.
Segundo a equipa, o principal entrave continua a ser estrutural: “O maior desafio continua a ser a falta de infraestrutura adequada: ciclovias seguras, estacionamentos acessíveis e uma rede interligada que torne a bicicleta uma opção viável no dia a dia.” A esta realidade junta-se uma cultura automóvel dominante e uma ainda frágil compreensão pública sobre a legislação rodoviária aplicada à mobilidade suave. “Muitos automobilistas desconhecem ou desvalorizam as regras do Código da Estrada relativas às bicicletas — em parte porque quando obtiveram a carta de condução, essas regras ou não existiam ou eram muito diferentes.”
A pedalar para a escola
Este ambiente de insegurança e desinformação é um travão importante à mudança de hábitos. Contudo, quando se criam condições seguras e colaborativas, o entusiasmo das comunidades é evidente. Prova disso são os comboios de bicicleta escolares, grupos organizados de crianças que pedalam até à escola acompanhadas por adultos voluntários, com horários e paragens definidos — como um autocarro, mas em duas rodas. Estes “bike buses” são um dos projetos mais visíveis da Bicicultura, através da iniciativa CicloExpresso.
“Estas iniciativas têm sido muito bem recebidas pelas comunidades. Tanto as autarquias como a comunidade escolar e as famílias mostram abertura e entusiasmo por soluções que promovem a segurança, a saúde e a autonomia das crianças”, sublinha a cooperativa. O apoio alargado tem permitido a expansão do modelo a várias cidades portuguesas.
Além da intervenção direta, a Bicicultura também tem contribuído para a evolução das políticas públicas. “Um dos nossos contributos mais visíveis tem sido a normalização dos comboios de bicicleta escolares em várias cidades do país”, apontam. A ação da cooperativa combina experiência no terreno com participação ativa em redes e fóruns internacionais, mostrando que “é possível — e desejável — colocar as pessoas no centro da transformação urbana”.
A inclusão está no centro da missão da Bicicultura. Com iniciativas como a Veloteca — uma “biblioteca de bicicletas” que permite experimentar diferentes modelos, incluindo bicicletas adaptadas a várias idades ou condições físicas — e o projeto Sempre a Rodar, que promove a reutilização de bicicletas infantis, a organização procura “quebrar barreiras económicas, físicas e culturais de acesso à bicicleta”. A abordagem é clara: mobilidade ativa deve ser um direito acessível, não um privilégio.
O futuro da cooperativa passa por expandir estas soluções e criar novas oportunidades de colaboração. “Em 2026, vamos trazer para Portugal o Global Bike Bus Summit, um evento internacional dedicado à mobilidade escolar sustentável, com um enfoque particular nos comboios de bicicleta”, anuncia a equipa. Ao mesmo tempo, a Bicicultura está a reforçar parcerias nacionais, mantendo o foco em projetos de baixo custo, impacto real e potencial de replicação.
Num país onde apenas 0,6% das deslocações casa-trabalho ou escola são feitas de bicicleta, segundo os Censos de 2021, a ação da Bicicultura prova que é possível fazer diferente — e melhor. Neste Dia Mundial do Ambiente, a mensagem é clara: pedalar pode ser um gesto quotidiano com impacto profundo na construção de cidades mais humanas, seguras e sustentáveis.



