O que os portugueses pensam sobre os desafios ambientais

Um novo estudo da Fundação Calouste Gulbenkian lança luz sobre a percepção dos cidadãos portugueses face às alterações climáticas e ao papel da ação pública e individual. O livro digital “Clima de Mudança: percepções sobre os desafios ambientais em Portugal”, publicado em junho de 2025, apresenta resultados atualizados que podem ser uma ferramenta essencial para autarquias e decisores locais.

O que os portugueses pensam sobre os desafios ambientais - estudo da Fundação Calouste Gulbenkian

O que revela o estudo? 

O inquérito nacional, conduzido pela Ipsos Apeme, recolheu opiniões de uma amostra representativa da população portuguesa sobre ambiente, clima e sustentabilidade. Os dados revelam uma sociedade cada vez mais atenta às questões ambientais, mas ainda marcada por perceções díspares quanto à urgência e ao papel de cada agente na resposta à crise climática. 

Principais destaques: 

  • 85% dos inquiridos identificam as alterações climáticas como uma ameaça séria; 
  • 92% afirmam já tomar medidas sustentáveis no dia a dia (reciclagem, redução de consumo, escolhas alimentares); 
  • Apenas 28% sentem que o seu contributo individual é suficiente para travar as alterações climáticas; 
  • Os cidadãos apontam os governos nacionais (66%), a UE (59%), e as empresas (58%) como principais responsáveis pela mudança; 
  • 44% reconhecem nos municípios e autoridades locais um papel relevante na liderança climática. 

A par disso, o estudo mostra uma clara valorização da ação coletiva e da necessidade de maior clareza na comunicação ambiental. 

Comunicação, confiança e informação 

Apesar do reconhecimento generalizado da origem humana das alterações climáticas (84%), o estudo sublinha que mais de metade dos portugueses desconfia da forma como os meios de comunicação tradicionais comunicam o tema. Já nas redes sociais, 49% referem dificuldade em distinguir informação fidedigna de desinformação. 

Este desafio coloca pressão adicional sobre entidades públicas, como municípios e redes como a Cidades Pelo Clima, para assumirem um papel ativo na mediação da informação, com transparência e proximidade

Relevância para os municípios e para a ação climática local 

Para as cidades e vilas portuguesas, este estudo representa uma oportunidade estratégica para alinhar as políticas locais com as preocupações da população: 

  1. Reforçar campanhas de sensibilização com mensagens claras, práticas e contextualizadas; 
  1. Adaptar os Planos de Ação Climática Municipais com base nos dados sociais e territoriais; 
  1. Promover uma participação cidadã mais qualificada, com ferramentas de escuta ativa e co-criação de soluções; 
  1. Reconhecer a diversidade geracional, social e regional no modo como os riscos ambientais são percebidos e vividos; 
  1. Valorizar os bons exemplos locais, criando um ciclo positivo de confiança e replicação. 

Além disso, a perceção dos portugueses de que os custos da inação são superiores aos investimentos em transição ecológica (77%) pode ser um argumento-chave para justificar financeiramente projetos locais de mobilidade sustentável, reabilitação energética, agricultura urbana ou arborização. 

Sobre o livro 

Clima de Mudança: perceções sobre os desafios ambientais em Portugal 
Fundação Calouste Gulbenkian / Ipsos Apeme (2025) 
Aceda à versão digital: gulbenkian.pt/publications/clima-de-mudanca 
 

O estudo inclui também uma análise comparativa com dados de inquéritos anteriores e tendências europeias, permitindo observar a evolução da consciência ambiental da sociedade portuguesa ao longo da última década.