Jovens portugueses inquiridos sobre o tema do clima mostram-se conscientes, mas limitados na ação 

O estudo Clima de Mudança, da Fundação Calouste Gulbenkien, que investiga as percepções e atitudes dos portugueses em relação às alterações climáticas e aos desafios ambientais (2025), revela que os jovens portugueses, sobretudo entre os 18 e os 24 anos, manifestam elevados níveis de preocupação com a crise climática. No entanto, essa preocupação nem sempre se traduz em comportamentos sustentáveis ou em procura ativa de informação. O retrato desta geração é marcado por contradições, condicionamentos estruturais e uma crescente frustração. 

Preocupação elevada 

Os jovens são o grupo etário que mais reconhece a gravidade das alterações climáticas. Entre os 18 e os 24 anos: 

  • 69,1% consideram as alterações climáticas uma ameaça muito séria (face a 63,1% na população geral). 
  • 95% dizem que estas alterações já afetam a vida das pessoas. 
  • 68,8% acreditam que a sua geração tem uma perceção mais forte da urgência climática do que as anteriores. 

A preocupação é real e transversal. No entanto, isso não significa automaticamente um envolvimento mais ativo. 

Contradições nos comportamentos 

Apesar da elevada consciência ambiental, os jovens entre os 18 e os 24 anos são o grupo com menor adesão à reciclagem: apenas 65,4% afirmam reciclar regularmente, quando a média nacional se situa nos 71,6%. Esta diferença é ainda mais significativa face aos grupos dos 45-54 anos (77,2%) e dos 55-64 anos (77,6%). 

Também na procura de informação sobre alterações climáticas, os jovens ficam abaixo da média. Apenas 20,6% afirmam procurar ativamente informação sobre o tema, face a 26,7% da média nacional e 32,2% na faixa dos 45-54 anos. 

Estes dados revelam um paradoxo: a geração que mais afirma estar preocupada é também aquela que menos recicla e que menos se informa de forma ativa. 

Perceção de barreiras 

60,9% dos jovens dizem ter vontade de adotar comportamentos mais sustentáveis, mas sentem que o sistema atual não facilita essa mudança. A perceção de que a responsabilidade é distribuída de forma desigual também é expressiva: 86,8% acreditam que os governos devem ter um papel muito importante na resposta à crise climática, enquanto apenas 9,8% consideram que a sua geração tem um papel igualmente relevante. 

Além disso, há uma clara desconfiança sobre a eficácia da ação individual: 41,4% dos jovens dizem que os comportamentos individuais pouco influenciam a crise climática, face a 27,6% da população geral. 

Participação e desilusão 

Apesar de estarem expostos ao tema através das redes sociais, os jovens revelam baixa confiança nas formas tradicionais de participação. Apenas 29,5% consideram eficaz participar em protestos e greves pelo clima e 13,2% acreditam que votar em partidos que dão prioridade às questões ambientais tem impacto significativo. 

Essa visão está alinhada com uma perceção de bloqueio: os jovens sentem que o sistema económico e político atual não permite que a sua preocupação se traduza em ação real. A vontade existe, mas não encontra canais eficazes. 

Os dados do estudo mostram que os jovens portugueses estão conscientes da gravidade da crise climática, mas enfrentam obstáculos reais que dificultam a conversão dessa preocupação em ação consistente. A reciclagem e a informação ativa são dois domínios em que essa contradição é evidente. O sistema educativo, económico e político tem aqui uma responsabilidade clara: criar condições para que a geração mais preocupada possa, de facto, agir de forma eficaz e transformadora. Caso contrário, a frustração corre o sério risco de transformar-se em apatia.