Mobilidade urbana na União Europeia: entre o trânsito e a Transição Climática 

A mobilidade urbana é uma das grandes questões que a União Europeia enfrenta no contexto da transição climática. Diariamente, milhões de veículos entram nas principais cidades europeias, pressionando infraestruturas, agravando os níveis de poluição e comprometendo metas ambientais. A mobilidade não é apenas uma questão de circulação: é um espelho das escolhas políticas, sociais e ambientais de uma sociedade. 

O panorama europeu 

Na União Europeia, os transportes representam cerca de 25% das emissões de gases com efeito de estufa, e o transporte rodoviário é responsável por mais de 70% dessa fatia, segundo dados da Agência Europeia do Ambiente (EEA). Com o crescimento urbano contínuo, o número de veículos privados que acedem diariamente aos centros urbanos continua elevado, apesar dos avanços em mobilidade partilhada e transporte público. 

As cidades mais afetadas, como Paris, Madrid, Milão e Bruxelas, têm adotado medidas drásticas: zonas de baixas emissões, proibição progressiva de carros a diesel, incentivos à bicicleta e transportes públicos gratuitos em dias de elevada poluição. Ainda assim, o congestionamento e a dependência do automóvel continuam a desafiar os objetivos do Pacto Ecológico Europeu e da Estratégia de Mobilidade Sustentável e Inteligente da Comissão Europeia. 

Portugal: o caso das cidades congestionadas 

Em Portugal, o cenário segue tendências semelhantes ou até mais desafiantes. Lisboa, Porto e outras grandes cidades continuam a registar elevados fluxos diários de veículos vindos das periferias. Só na Área Metropolitana de Lisboa, entram mais de 370 mil carros por dia, de acordo com dados do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT). 

Essa realidade reflete-se em vários desafios: 

  • Baixa utilização do transporte público nas ligações intermunicipais, por falta de oferta e horários ajustados; 
  • Infraestruturas sobrecarregadas e um modelo de desenvolvimento urbano disperso, que obriga à dependência do automóvel; 
  • Dificuldades na implementação de zonas de emissões reduzidas, em parte pela resistência de alguns setores e falta de alternativas. 

Lisboa, embora tenha dado passos importantes (como o passe único metropolitano e projetos de ciclovias), continua a sofrer com congestionamentos diários e níveis preocupantes de dióxido de azoto (NO₂), sobretudo nas principais vias de entrada como a Segunda Circular, A5 e Avenida da Liberdade. 

Desafios e caminhos para a transição 

A transição climática exige uma mudança profunda na forma como as cidades europeias pensam a mobilidade. Isso passa por: 

  • Investimento massivo em transporte público eficiente, acessível e verde; 
  • Criação de zonas de emissões reduzidas e políticas de restrição ao uso do automóvel nos centros urbanos; 
  • Promoção ativa de modos suaves de mobilidade, como caminhar e pedalar; 
  • Planeamento urbano mais integrado, com habitação, serviços e emprego mais próximos dos cidadãos. 

A mobilidade é central para a neutralidade climática prevista para 2050. No entanto, essa transição só será bem-sucedida se for justa, inclusiva e planeada com visão estratégica. Portugal, à semelhança da Europa, terá de acelerar este processo se quiser cumprir os compromissos climáticos e, ao mesmo tempo, garantir cidades mais saudáveis e habitáveis para todos.