COP30: a estrutura de trabalho, os atores e os desafios 

A COP30, que terá lugar entre 6 e 21 de novembro de 2025 em Belém do Pará, promete ser um dos encontros climáticos mais simbólicos e desafiantes da história das negociações da ONU. Pela primeira vez, uma Conferência das Partes acontece no coração da Amazónia, região decisiva para o equilíbrio ambiental do planeta e palco de fortes tensões sociais, económicas e ecológicas. 

Estrutura de trabalho: “Thematic Days” 

A COP30 em Belém adotará uma organização inovadora baseada em “Thematic Days” — dias temáticos dedicados a áreas estratégicas da transição climática. Em vez de se concentrarem apenas nas negociações diplomáticas entre países, esses dias irão articular compromissos multilaterais com soluções práticas, envolvendo não só governos, mas também empresas, sociedade civil, comunidades locais e juventude. 

Entre os temas previstos destacam-se: 

  • Energia, transportes e finanças: debates sobre acelerar a transição energética, eletrificação da mobilidade e mobilização de financiamento verde. 
  • Florestas, oceanos e biodiversidade: foco na preservação da Amazónia e na integração das convenções do Clima (UNFCCC) e da Biodiversidade (UNCBD). 
  • Agricultura, alimentação, mulheres e juventude: discussão sobre agricultura regenerativa, segurança alimentar e inclusão de grupos historicamente marginalizados. 
  • Cidades, infraestruturas e água: soluções urbanas para reduzir emissões, aumentar a resiliência e enfrentar crises hídricas. 
  • Justiça social e direitos humanos: ligação entre clima e equidade, garantindo que os custos e benefícios da transição sejam distribuídos de forma justa. 

Esta abordagem pretende transformar a COP30 num espaço mais participativo e orientado para resultados, com sessões dedicadas à apresentação de projetos concretos, parcerias público-privadas e iniciativas de inovação social. O modelo dos “dias temáticos” já tinha sido experimentado em edições anteriores, como Glasgow (COP26) e Dubai (COP28), mas em Belém ganha um peso adicional: pretende relacionar negociações globais com realidade amazónica e às vozes locais, num território onde os impactos da crise climática se fazem sentir de forma dramática. 

Atores estratégicos e governança: entre diplomacia e setor privado 

A liderança da COP30 ficará nas mãos de André Corrêa do Lago, diplomata de carreira e uma das figuras mais respeitadas da diplomacia climática brasileira. Corrêa do Lago foi negociador na Cimeira da Terra do Rio de Janeiro (Rio-92), esteve envolvido nas conversações do Protocolo de Quioto e teve papel ativo na formulação do Acordo de Paris (2015). O seu perfil combina experiência técnica e habilidade política, características vistas como essenciais para mediar as divisões entre Norte e Sul globais e conduzir uma conferência que acontecerá num cenário de tensões crescentes sobre financiamento, transição energética e justiça climática. 

Mas a COP30 não será apenas palco da diplomacia tradicional. O evento também colocará em evidência o papel do setor privado como ator central na transição para uma economia de baixo carbono. Nesse âmbito, o empresário Dan Ioschpe foi nomeado High-Level Champion, cargo criado para aproximar a conferência da realidade económica e mobilizar empresas, investidores e sociedade civil em torno dos compromissos oficiais. Ioschpe, reconhecido pelo seu trabalho à frente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) e pela atuação em fóruns empresariais, terá como missão demonstrar que a transformação climática não é apenas obrigação dos governos, mas também oportunidade estratégica para o mundo corporativo. 

A dupla Corrêa do Lago–Ioschpe simboliza a tentativa de fazer da COP30 uma conferência de articulação entre Estado e mercado. Enquanto a presidência diplomática deverá zelar pelo avanço das negociações multilaterais, o Champion empresarial terá de provar que o setor privado pode ser mais do que espectador: pode ser agente decisivo na implementação de soluções de baixo carbono. 

Expectativas e apelos: NDCs, empresas e vozes da Amazónia 

À medida que a COP30 em Belém se aproxima, cresce a pressão para que os países cheguem ao encontro com compromissos mais ambiciosos.  Outro eixo de expectativa recai sobre o setor privado. Longe de ser apenas patrocinador de eventos, as empresas são chamadas a desempenhar um papel ativo na implementação de soluções de baixo carbono, desde tecnologias de energias renováveis a modelos inovadores de financiamento climático. A experiência das últimas COPs mostrou que, quando mobilizado, o setor empresarial pode acelerar mudanças de escala, influenciando inclusive políticas nacionais. Em Belém, essa participação será reforçada pelo High-Level Champion Dan Ioschpe, que deverá articular compromissos voluntários entre empresas e investidores para apoiar a transição energética e a adaptação. 

Entre as metas oficiais e as vozes da sociedade civil, a COP30 será assim um palco de expectativas cruzadas: de um lado, a necessidade urgente de mais ambição climática; do outro, a exigência de que essa ambição seja justa, inclusiva e aplicável à realidade de milhões de pessoas na Amazónia e além dela