
A ONU divulgou o Relatório de Síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs) de 2025, um documento essencial que avalia os compromissos dos países no âmbito do Acordo de Paris . Apesar de avanços significativos, o relatório confirma que o mundo ainda não está no caminho certo para limitar o aquecimento global a 1,5°C.
O que são as NDCs?
As Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs) são planos climáticos nacionais submetidos à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC), onde cada país define metas e medidas para reduzir emissões e adaptar-se aos impactos climáticos. As CNDs são revistas a cada cinco anos, num processo que deve refletir maior ambição e coerência com os objetivos globais.
Principais resultados do relatório
Baseado em 64 novas CNDs submetidas entre janeiro de 2024 e setembro de 2025, representando cerca de 30% das emissões globais, o relatório mostra uma trajetória de progresso, mas ainda longe do necessário.
1. Ambição e cobertura em alta
- 89% das CNDs abrangem toda a economia nacional, face a 81% nas anteriores.
- 88% dos países referem ter atualizado as metas com base nas conclusões do 1.º Balanço Global (Global Stocktake).
2. Redução de emissões
- As metas atuais implicariam uma redução média de 17% das emissões até 2035, comparado a 2019.
- Para cumprir o limite de 1,5°C, seria necessária uma redução de 60% até 2035 — o que exige triplicar o ritmo de ação climática.
- As projeções apontam para o pico de emissões antes de 2030, seguido de reduções graduais.
Adaptação e resiliência
A adaptação ganha um peso crescente:
- 73% das CNDs incluem metas específicas de adaptação climática, com foco em água, saúde, ecossistemas, energia e segurança alimentar.
- 83% dos países estão a elaborar ou atualizar Planos Nacionais de Adaptação (NAPs).
- As novas metas alinham-se com o Objetivo Global de Adaptação (GGA), reforçando a importância da resiliência e da proteção das comunidades mais vulneráveis.
Mitigação e transição energética
As prioridades são claras:
- Triplicar a capacidade de energias renováveis até 2030.
- Duplicar a eficiência energética no mesmo período.
- Reduzir gradualmente o uso de combustíveis fósseis, com 13% dos países a estabelecerem metas concretas de eliminação do carvão.
- Cresce o interesse por hidrogénio verde, bioenergia sustentável, reflorestação e tecnologias de captura de carbono (CCUS).
Inclusão e justiça climática
O relatório de 2025 evidencia uma dimensão social mais forte nas políticas climáticas:
- 89% das CNDs integram a igualdade de género.
- 88% reconhecem o papel transformador dos jovens e das crianças.
- 72% valorizam o conhecimento e o papel dos povos indígenas e comunidades locais.
- A justiça climática e a transição justa aparecem como eixos centrais: garantir que ninguém é deixado para trás na descarbonização.
Financiamento e cooperação internacional
O relatório sublinha que 67% das metas dependem de apoio financeiro internacional, incluindo transferência de tecnologia e reforço de capacidades.
A cooperação entre países continua a ser determinante para cumprir as metas globais e assegurar que os países em desenvolvimento possam implementar as suas estratégias.
Porque isto importa para as cidades
As conclusões deste relatório reforçam o papel das cidades e regiões como atores centrais da ação climática:
- São responsáveis por mais de 70% das emissões globais, mas também lideram na inovação e adaptação local.
- As metas de neutralidade até 2050 (ou 2030, no caso das Cidades-Missão da UE) dependem de políticas municipais eficazes em energia, mobilidade, construção e economia circular.
- Plataformas colaborativas como a Cidades pelo Clima são essenciais para transformar os compromissos nacionais em planos concretos e replicáveis a nível local.



