Construção sustentável: O caminho para cidades mais verdes, inclusivas e prósperas

Um estudo conduzido pela C40 Cities, Buro Happold e a New Economics Foundation, com o apoio da cidade de Oslo e da Laudes Foundation, analisa a quantidade, qualidade e tipos de empregos gerados pela transição para a construção sustentável, comparando com práticas convencionais. Também apresenta políticas que podem ser adotadas pelas cidades para promover uma força de trabalho inclusiva e impulsionar a indústria da construção limpa.  

O campo de análise deste estudo engloba habitações, escritórios, escolas, hospitais, ruas e infraestruturas críticas. O estudo foi realizado nas cidades de Bogotá, Londres, Madrid, Cidade do México, Oslo e Seattle.

O peso da construção no mundo 

O setor da construção é fundamental para a economia e o bem-estar global, representando 11 a 13% do PIB mundial e empregando mais de 273 milhões de pessoas. No entanto, esse setor também contribui significativamente para a crise climática, sendo responsável por 23% das emissões globais de CO₂ (UNEP, 2023), 30% dos recursos naturais extraídos globalmente e pela produção de grandes volumes de resíduos e poluição (Yeheyis et al., 2013) 

Por outro lado, as práticas atuais não atendem adequadamente às necessidades da sociedade, com mais de mil milhões de pessoas a viver em assentamentos informais e muitas cidades a deparar-se com crises de habitação e custo de vida. 

A Importância da construção sustentável 

A transição para uma construção sustentável é essencial. Esse conceito inclui práticas descarbonizadas, eficientes em recursos, resilientes e socialmente justas, promovendo cidades mais saudáveis e sustentáveis. Os benefícios incluem a redução de emissões e desperdício, a criação de empregos verdes e de qualidade e de infraestruturas acessíveis e sustentáveis para todos, especialmente para grupos mais vulneráveis. As cidades têm um papel fundamental nesse processo, desde a definição de diretrizes e implementação de políticas, até ao incentivo à inovação no setor. 

O estudo analisou dois cenários possíveis para o setor da construção no período de 2023 a 2050, identificando o potencial de geração de empregos, desafios e oportunidades na adoção de práticas sustentáveis. No cenário Construção Convencional, esta funciona como atualmente, sem alterações significativas: há uma geração elevada de emissões de dióxido de carbono; resíduos e poluição do ar, solo e ruído; dependência de materiais intensivos em carbono, como aço e betão, e recurso a métodos construtivos tradicionais com baixa eficiência e elevado impacte ambiental. 

No cenário Construção Sustentável as principais mudanças incluem otimização do uso dos edifícios (maior taxa de ocupação); manutenção regular para prolongar a vida útil das construções; requalificação e reutilização adaptativa de edifícios existentes; construção industrializada e modular, reduzindo desperdício e tempo de obra; uso de madeira e materiais locais de baixo carbono; especificação de produtos sustentáveis para reduzir pegadas ambientais; reutilização de materiais e componentes estruturais; promoção da desmontagem e desconstrução, reduzindo os resíduos do processo de demolição. 

Geração de empregos com a adoção da construção sustentável 

O estudo concluiu que a adoção do modelo de Construção Sustentável gerará mais empregos do que a continuidade dos métodos tradicionais de construção. Esses empregos serão principalmente nas áreas de manutenção e reparação, reabilitação de edifícios, uso adaptativo de edifícios e construção em madeira. Além disso, a maior parte desses empregos ficará dentro dos limites físicos das cidades (cerca de 70%), garantindo que as comunidades locais beneficiam diretamente da transição para práticas mais limpas. 

Todas as cidades assistem a um aumento significativo no número total de empregos na construção como resultado da transição para a construção limpa. No entanto, esse potencial de criação de empregos varia significativamente entre as cidades. Por exemplo, a Cidade do México teria um aumento de 193,1% no número de empregos no setor de construção, enquanto Seattle e Londres apresentariam aumentos proporcionais menores devido ao já significativo esforço de transição verde. Desta forma, cidades como a Cidade do México e Bogotá, com elevadas taxas de desemprego, podem beneficiar significativamente da criação de empregos gerada pela construção limpa. Em cidades como Londres, onde há escassez de mão de obra no setor de construção, oferece uma oportunidade de revitalizar a indústria e garantir um mercado de trabalho mais resiliente e diversificado. 

Qualificação da força de trabalho 

A qualificação e a formação vão ser requeridos a diferentes níveis para preparar os trabalhadores para as novas funções no setor da construção limpa. Para setores como betão de baixo carbono, desmontagem, manutenção e reabilitação, os esforços de qualificação podem ser menos intensivos, pois esses setores têm elevada compatibilidade a nível de habilitações com funções já desempenhadas no setor de construção convencional. Já para métodos de construção modernos, como a construção modular e em madeira, que são práticas mais inovadoras, será necessário um maior esforço de qualificação no setor. 

Melhoria nas condições de trabalho e inclusão 

A transição para a construção limpa também oferece uma oportunidade crítica de melhorar a equidade, diversidade e inclusão, bem como a qualidade das condições de trabalho no setor. Porém, com indica o estudo, isso não acontecerá automaticamente. Muitos trabalhadores da construção enfrentam condições de trabalho precárias, salários baixos e práticas de subcontratação. Os locais de trabalho na construção apresentam frequentemente altas taxas de acidentes e mortes. A força de trabalho é predominantemente masculina, com pouca representação de mulheres. Sem ações deliberadas, a construção limpa pode replicar as mesmas condições de trabalho adversas observadas na construção carbono intensiva. 

Uma transição justa e verde 

Uma transição justa e verde no setor de construção exigirá a colaboração ativa entre indústria, sindicatos e setores públicos. Algumas das alavancas incluem compras públicas, gestão de ativos municipais, planeamento e controlo do desenvolvimento urbano, tributação, códigos de construção e colaboração com a indústria. Ao estabelecer regulamentações que definam padrões de sustentabilidade para edifícios, e ao adotar políticas de compras públicas que priorizem materiais de baixo carbono, as cidades podem moldar um futuro regenerativo e equitativo para as suas indústrias da construção, garantindo que a transição para a construção limpa traga benefícios tanto ambientais quanto sociais. 

Investimentos e benefícios 

A transição para a construção limpa exigirá investimentos públicos e privados significativos a curto prazo, mas, de acordo com o estudo, os benefícios que proporciona justificam amplamente esses custos. A mudança é crucial para as cidades reduzirem a pegada de carbono e alcançarem as metas climáticas.  

Os investimentos necessários de todas as partes envolvidas para o cenário de Construção Sustentável são superiores aos do cenário de Construção Convencional (aumentando entre 2% a 127% para as cidades analisadas). Isso deve-se, principalmente, à necessidade de manutenção das construções existentes, que abrange todos os edifícios da cidade. A manutenção será responsável por 67,5% do custo médio em Seattle e nas cidades europeias, e 31,5% nas cidades latino-americanas. Embora os métodos de construção limpa não exijam mais manutenção do que os edifícios intensivos em carbono, a manutenção é necessária para preservar e prolongar a vida útil dos edifícios existentes, enquanto, no cenário da Construção Convencional, essa atividade é frequentemente negligenciada. 

Embora as atividades de manutenção possam ser menos onerosas do que a construção de novas residências, o grande volume de edifícios que exigirão atualizações ou reparações até 2050 exige um compromisso financeiro significativo. A manutenção regular atualmente é negligenciada, o que leva a danos financeiros e económicos, impactos na saúde e potencial perda de vidas devido ao aumento dos impactes climáticos nos edifícios. Exemplos disso incluem edifícios que têm maior risco de desabamento em situações como inundações e tempestades; e edifícios que, tendo maior exposição ao calor urbano, temperaturas extremas e humidade, resultam em impactos significativos de saúde e financeiros para os seus habitantes.

Recomendações para facilitar a transição 

A C40 identificou uma série de recomendações políticas para facilitar a transição para o cenário de construção sustentável, incluindo: 

  1. Atualizar os códigos de construção para incorporar materiais de baixo carbono. 
  2. Investir na formação para lidar com a escassez de recursos humanos habilitados, em parceria com o setor privado, sindicatos e instituições de ensino. 
  3. Desenvolver um plano de longo prazo para a transição setorial, com uma visão estratégica e ações coordenadas para garantir que a construção limpa se torne a norma. 

Essas políticas são fundamentais para garantir que a transição para a construção limpa seja eficaz e traga benefícios duradouros para as cidades e para os seus cidadãos.