Aquecimento global: Estudo demonstra que acelerou e defende mudanças na comunicação

Aquecimento Global

O estudo “Global warming has accelerated: are the United Nations and the public well-Informed?”, liderado pelo climatologista James E. Hansen, alerta para uma aceleração significativa do aquecimento global nos últimos anos. O investigador e a sua equipa questionam se as Nações Unidas e o público em geral estão devidamente informados sobre a gravidade da situação. Publicado em fevereiro de 2025, o relatório enfatiza que o aumento da temperatura global está a ocorrer a um ritmo mais rápido do que muitas previsões científicas anteriores indicavam.

Principais descobertas

O estudo revela que a temperatura média global subiu mais de 0,4°C nos últimos dois anos, atingindo um pico de +1,6°C em agosto de 2024, em relação à média do período de referência (1880-1920). Este aumento foi parcialmente impulsionado pelo fenómeno climático El Niño, mas a magnitude do aquecimento foi o dobro do esperado para um evento El Niño de intensidade moderada, indicando a presença de outros fatores subjacentes.

Redução dos aerossóis e maior absorção de radiação solar: a explicação?

Uma das hipóteses avançadas para explicar esta aceleração do aquecimento global é a redução da poluição atmosférica por aerossóis. Os aerossóis, pequenas partículas suspensas na atmosfera, têm um efeito de arrefecimento ao refletirem parte da radiação solar de volta para o espaço.

A diminuição da emissão de aerossóis devido a políticas ambientais mais rigorosas e à transição para fontes de energia limpas pode ter contribuído para um aumento da absorção de calor pelo planeta.

A redução dos aerossóis tem assim um efeito paradoxal: melhora a qualidade do ar, mas pode acelerar o aquecimento global ao permitir que mais radiação solar seja absorvida pela Terra. A solução não passa por voltar a poluir a atmosfera, mas sim por reduzir simultaneamente os gases com efeito de estufa (GEE) e desenvolver estratégias para limitar o aumento da temperatura global.

Impactos nas regiões polares e no nível do mar do aquecimento global

O estudo sublinha que as regiões polares são particularmente vulneráveis às alterações climáticas, com consequências globais de longo prazo. O derretimento acelerado das camadas de gelo na Gronelândia e na Antártida, combinado com a entrada de água doce no Oceano Atlântico Norte, pode alterar os padrões das correntes oceânicas e intensificar eventos climáticos extremos. Já a subida do nível do mar representa um risco crescente para cidades costeiras em todo o mundo, com implicações económicas e sociais graves para milhões de pessoas.

Desafios para as cidades e impacto global

As cidades, como importantes centros de atividade económica e social, estão na linha da frente dos impactos das alterações climáticas. O aumento das temperaturas urbanas, as ondas de calor mais frequentes e intensas, a escassez de água em muitas regiões do planeta e o risco de inundações costeiras representam desafios significativos para os governos locais. Mas, para além da maior exposição aos riscos, o estudo salienta que algumas cidades já estão a implementar medidas de mitigação e adaptação, como a expansão de infraestruturas verdes, a melhoria da eficiência energética dos edifícios e o reforço dos sistemas de drenagem urbana para lidar com chuvas intensas.

Conclusões e recomendações

O estudo “Global Warming Has Accelerated” reforça a necessidade de uma resposta global coordenada, alertando que, sem medidas rápidas e eficazes, os impactos das alterações climáticas serão cada vez mais severos e difíceis de reverter. O estudo levanta preocupações sobre a forma como a crise climática é comunicada ao público e às entidades internacionais, incluindo as Nações Unidas. Os autores defendem que:

  • A ciência climática deve ser comunicada de forma mais clara e acessível, para garantir que tanto os decisores políticos como o público compreendam a urgência do problema.
  • As metas climáticas atuais podem ser insuficientes, uma vez que o aquecimento global está a avançar mais rapidamente do que o previsto.
  • São necessárias ações imediatas e mais ambiciosas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, investir em energias renováveis e preparar cidades e comunidades para os impactos inevitáveis das alterações climáticas.

O estudo foi conduzido por uma equipa de 18 cientistas climáticos, liderada por James E. Hansen, climatologista e ex-diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA. O artigo foi publicado a 3 de fevereiro de 2025 na revista científica Environment. A apresentação oficial do estudo ocorreu no mesmo dia, durante um webinar acessível ao público, onde os autores discutiram as principais conclusões e as implicações das suas descobertas.