
O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade de reflexão sobre o impacto da igualdade de género em diversas esferas da sociedade. Um dos aspetos menos debatidos, mas de extrema relevância, é a relação entre o aumento da representatividade feminina em cargos de poder e a adoção de políticas ambientais mais sustentáveis. Vários estudos demonstram que países com maior participação das mulheres na tomada de decisões têm uma pegada ecológica mais baixa e uma produção de dióxido de carbono mais reduzida. A liderança feminina parece estar associada a uma maior consciência ecológica e a um compromisso mais forte com o futuro do planeta.
Países com mais mulheres em cargos de poder implementam políticas mais sustentáveis
Investigadores analisaram a relação entre o estatuto político das mulheres e a redução das emissões de carbono. Um estudo que abrangeu 91 países concluiu que uma maior representação feminina nos parlamentos era um dos principais preditores de menores emissões de dióxido de carbono, equiparando-se a fatores como o nível de urbanização de um país. A questão foi igualmente tema de um estudo de 2018, o qual provou que um aumento de 10% na representação feminina parlamentar estava associado a uma redução de 0,24 toneladas métricas nas emissões de carbono per capita. Da mesma forma, uma análise dos dados de 72 países, entre 1971 e 2012, demonstrou que o aumento de um ponto percentual no índice de capacitação política das mulheres estava ligado a uma diminuição de quase 12% nas emissões de carbono a longo prazo.
Risco acrescido, maior sensibilidade e vontade de mudança
Embora os estudos comprovem a ligação entre a liderança feminina e a adoção de políticas mais sustentáveis, as razões para esse impacto positivo não são totalmente explicadas. No entanto, fortes indicadores sugerem que as mulheres, historicamente mais expostas aos desafios ambientais, têm maior preocupação com a proteção do planeta. Ao longo da história, os papéis sociais femininos estiveram diretamente ligados ao ambiente – desde a recolha de água e alimentos até à agricultura de subsistência. Essa proximidade com os recursos naturais e a maior perceção de vulnerabilidade ao risco tornam as mulheres mais sensíveis às questões ambientais e mais propensas a liderar esforços para combatê-las.
As mulheres e os impactos das alterações climáticas
São os papéis tradicionais de género que expõem mais as mulheres aos efeitos adversos das alterações climáticas, tornando-as, através da história, as maiores vítimas das alterações climáticas:
- Deslocação forçada: segundo estimativas da ONU, 80% das pessoas deslocadas devido às alterações climáticas são mulheres. Secas, cheias, ciclones e incêndios florestais são algumas das principais causas destas deslocações.
- Aumento da violência de género: a violência contra mulheres e raparigas intensifica-se em cenários de catástrofe. Um estudo realizado em 2021 demonstrou que desastres naturais resultam numa maior taxa de mortalidade feminina.
- Exposição à poluição: A poluição atmosférica afeta de forma desproporcional mulheres e crianças. Nos EUA, centrais elétricas a carvão emitem anualmente 48 toneladas de mercúrio, um químico tóxico que pode causar graves problemas neurológicos em bebés e crianças. Neste país, uma em cada seis mulheres apresente níveis perigosos deste metal no sangue
- Pobreza extrema: Em todo o mundo, mulheres entre os 25 e 34 anos têm 25% mais probabilidade do que os homens de viver em pobreza extrema. Nos países economicamente marginalizados, a maioria dos 1,5 mil milhões de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia são mulheres.
Promover a igualdade de género é agir para um planeta com futuro
A luta pela igualdade de género não é apenas uma questão de direitos humanos, mas também uma estratégia fundamental para assegurar um futuro mais justo e sustentável para as próximas gerações. Para além de um imperativo social, trata-se igualmente de uma ação essencial para a preservação ambiental. A inclusão de mais mulheres na liderança política e empresarial reforça a capacidade das sociedades para enfrentar os desafios ambientais do século XXI. Investir na capacitação e participação feminina é investir num futuro mais sustentável, equitativo e próspero para todos.