À medida que a produção descentralizada de energia cresce, com destaque para o autoconsumo solar fotovoltaico, um novo tipo de equipamento ganha protagonismo, nomeadamente nas habitações e outros edifícios: os inversores inteligentes (smart inverters). Embora pouco visíveis, estes equipamentos desempenham diversas funções, sendo a primordial a de garantir a ligação à rede elétrica em condições de qualidade e segurança adequadas. Mas há um risco ainda pouco discutido: a sua vulnerabilidade a ataques informáticos.
Um novo relatório do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA (NIST), publicado em dezembro de 2024, oferece diretrizes práticas para reforçar a cibersegurança destes equipamentos. O estudo, intitulado NIST IR 8498 – Cybersecurity for Smart Inverters, parte da análise de casos reais, testes em equipamentos comerciais e levantamento de falhas conhecidas.
O que são inversores inteligentes?
Inversores inteligentes são equipamentos eletrónicos que convertem a corrente contínua (DC) produzida por sistemas solares fotovoltaicos em corrente alternada (AC), usada pelos eletrodomésticos ou injetada na rede pública. A sua “inteligência” reside, por exemplo, na capacidade de comunicar com outros sistemas, ajustar a produção de energia em tempo real e responder a instruções da rede elétrica (por exemplo, reduzir a produção em caso de sobrecarga).
Estes dispositivos também podem estar ligados a baterias, veículos elétricos ou acoplados a sistemas de gestão de energia (home energy management systems), funcionando como nós ativos da rede.
No entanto, essa conectividade traz riscos: se mal configurados ou atacados, os inversores podem ser explorados para perturbar o funcionamento da rede elétrica, prejudicar equipamentos ou comprometer dados pessoais.
Relatório do NIST aponta riscos e soluções
O NIST IR 8498 foi desenvolvido por uma equipa de investigadores que analisou vulnerabilidades listadas na National Vulnerability Database (NVD) e incidentes conhecidos, tendo sido testados cinco modelos de inversores residenciais e comerciais.
Com base nesta análise, o relatório apresenta:
Sete boas práticas para utilizadores e instaladores:
- Alterar as credenciais de acesso padrão e usar senhas fortes
- Implementar controlo de acesso baseado em funções (proprietário, técnico, instalador)
- Ativar o registo de eventos de segurança
- Atualizar firmware/software regularmente, com segurança
- Fazer cópias de segurança da configuração do equipamento
- Desativar funções e interfaces desnecessárias
- Usar encriptação nas comunicações e segmentar a rede
Recomendações para fabricantes:
Além das recomendações anteriores, o NIST sugere incluir:
- Inicialização segura (secure boot). Este é um processo que garante que o dispositivo arranca apenas com software legítimo e verificado.
- Proteção de dados sensíveis, o que implica o uso de encriptação, tanto para armazenar dados no dispositivo como para os transmitir pela rede.
- Controlo mais granular para o utilizador, ou seja, dar ao utilizador a capacidade de definir e ajustar permissões ou configurações com maior detalhe e precisão, em vez de opções genéricas ou limitadas.
- Capacidade de desativar portas e serviços que não estejam em uso. Muitos dispositivos vêm com interfaces e serviços de rede ativados por padrão (por exemplo: Bluetooth, USB, Telnet, HTTP). A recomendação é permitir ao utilizador ou administrador desativar tudo o que não for necessário.
- Registos transparentes de atividade e tentativas de acesso. O dispositivo deve manter um log detalhado e acessível de quem acedeu ao sistema e quando, que ações foram realizadas e tentativas falhadas de login ou acessos não autorizados
O que revelaram os testes de cibersegurança? Os investigadores testaram cinco inversores disponíveis no mercado. Os principais resultados foram:
- Todos permitiam atualização de software e geração de logs
- Poucos ofereciam funcionalidades completas de backup/restauro
- A maioria tinha controlo de acesso limitado
- Havia dificuldades na desativação de interfaces desnecessárias e fraca segmentação de rede
Estes dados mostram que, apesar dos avanços tecnológicos, a cibersegurança ainda não é uma prioridade visível no design e/ou operação de muitos inversores inteligentes.
Por que é isto importante?
A segurança dos inversores não é apenas uma questão técnica. À medida que a rede elétrica se torna mais descentralizada, digital e interligada, um ataque massivo a dispositivos vulneráveis pode ter consequências em larga escala, incluindo cortes de energia, danos a infraestruturas ou acesso indevido a dados.
Para os reguladores e operadores de sistemas elétricos, este tipo de orientação é essencial para definir requisitos mínimos de segurança e apoiar decisões sobre certificação e etiquetagem.
Para os instaladores e consumidores, o relatório oferece uma base prática para configurar corretamente os equipamentos e exigir mais segurança por parte dos fabricantes.
Fontes: