
Será que os polos da Terra estão realmente a inverter-se, como sucedeu há 780 mil anos? E será que esse movimento tem alguma influência nas alterações climáticas? O que é inegável é que o polo magnético norte continua a mover-se, mas quais as reais implicações desse facto?
Do Canadá para a Sibéria
Em dezembro de 2024, a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e o British Geological Survey (BGS) lançaram a versão mais recente do World Magnetic Model (WMM2025), uma ferramenta essencial para a navegação global que mapeia as variações do campo magnético terrestre.
Esta atualização, que ocorre de cinco em cinco anos, é essencial para assegurar a precisão de sistemas de navegação utilizados por aviões, navios, submarinos e dispositivos GPS. Uma novidade desta edição é o Modelo Mundial Magnético de Alta Resolução (WMMHR2025), que oferece uma resolução espacial melhorada, de aproximadamente 300 quilómetros no equador, em comparação com os 3.300 quilómetros das versões anteriores.
O WMM2025 também atualiza as zonas de sombra magnética nas proximidades dos polos Norte e Sul, áreas onde o campo magnético terrestre pode ser inadequado para a navegação. Desde a sua descoberta em 1831, o polo magnético norte tem-se deslocado do Canadá em direção à Sibéria, com variações na velocidade de movimento. Nos últimos anos, essa velocidade diminuiu de 50 quilómetros por ano para cerca de 35 quilómetros anuais. Este movimento é atribuído a alterações imprevisíveis no fluxo de ferro fundido no núcleo externo da Terra, que afetam a posição do polo magnético.
Podem os polos inverter-se?
A possibilidade de uma inversão dos polos magnéticos da Terra tem sido objeto de estudo científico há décadas. Historicamente, o campo magnético terrestre já passou por várias inversões, sendo a mais recente, conhecida como inversão de Brunhes-Matuyama, ocorrida há aproximadamente 780 mil anos. Este evento geológico é amplamente documentado e serve como referência para estudos paleomagnéticos, como o liderado por Yuki Haneda e publicado na revista Progress in Earth and Planetary Science.
Apesar da constatação de que polo norte magnético está a deslocar-se do Canadá em direção à Sibéria, não há evidências concretas de que uma inversão iminente esteja em curso – uma posição defendida, por exemplo, pelos autores do estudo “Earth’s magnetic field is probably not reversing”, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Por outro lado, outras investigações defendem que, durante uma inversão, o campo magnético não desaparece completamente; em vez disso, pode enfraquecer e tornar-se mais instável com múltiplos polos emergindo temporariamente. É importante notar que a vida na Terra já passou por múltiplas inversões sem evidências claras de extinções em massa diretamente relacionadas a esses eventos.
Aquecimento global: fatores humanos, não geofísicos
Este movimento não tem qualquer relação com as alterações climáticas. A principal causa do aquecimento global atual é a atividade humana, com a emissão excessiva de gases com efeito de estufa (GEE) como dióxido de carbono (CO₂) e metano (CH₄), além de outras mudanças na composição atmosférica, e não fatores geofísicos, como as mudanças no campo magnético da Terra.
Embora a inversão dos polos não tenha impacto direto sobre o clima, existe a hipótese de que um campo magnético enfraquecido poderia, teoricamente, aumentar a exposição da Terra à radiação cósmica. Este aumento da radiação poderia afetar a camada de ozono, que protege a Terra dos raios solares prejudiciais, e, de forma indireta, alterar padrões climáticos. No entanto, esta possibilidade ainda não está comprovada e é necessária mais investigação.